IBID, um Índice para chamar de nosso
O Chefe de Assuntos Econômicos do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), Rodrigo Vieira Ventura, passou o último semestre envolvido em uma empreitada hercúlea. Coube a ele, ao lado de sua equipe, a elaboração do Indice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID), que consiste em uma minuciosa radiografia da inovação nas cinco regiões e 27 unidades federativas brasileiras. Desenvolvido com base na metodologia do Índice Global de Inovação (IGI), da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), – no qual o Brasil figura na 29ª posição – o IBID, mais do que um termômetro da inovação no País, é um instrumento essencial para políticas públicas e decisões empresariais.
Graduado em Economia pela UERJ, com mestrado em Economia pelo IBMEC (2009) e doutorado em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, Ventura é servidor público federal desde 2010, tendo atuado nas áreas de Contas Nacionais e de índices de preços ao consumidor do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nesta entrevista ele detalha alguns dos resultados da recém-lançada primeira edição do IBID.
O que a primeira edição do IBID revelou de mais importante?
Rodrigo Vieira Ventura: O IBID revela que as regiões Sul e Sudeste são o locus da inovação no Brasil. Das 8 primeiras posições do ranking geral, 7 são ocupadas por estados destas duas regiões. Já estados das Regiões Norte e Nordeste ocupam as 15 últimas colocações. Destas, as últimas 6 são ocupadas por estados que pertencem à chamada Amazônia Legal, o que sinaliza para os desafios e a necessidade de ações estratégicas para o desenvolvimento desta região tão importante para o Brasil e o mundo, sobretudo na perspectiva da bioeconomia.
Como o INPI utilizará as informações reveladas pelo levantamento da inovação permitido pelo IBID?
RVV: Além de tornar o Instituto referência do Sistema Estatístico Nacional na temática da inovação, tornando-o ainda mais reconhecido pela sociedade brasileira e disseminando a cultura da PI Brasil afora, o IBID será importante direcionador da estratégia de atuação regional do INPI.
Em que medida o IBID é também um indicador para a definição de investimentos das empresas?
RVV: Por meio do IBID, as empresas reconhecem os espaços econômicos mais propícios à inovação, aqueles nos quais o produto dos seus investimentos será potencializado em resultados inovativos concretos. Analogamente, ao evidenciar gargalos e desafios específicos dos diferentes estados e regiões, aponta para oportunidades de investimento com maior potencial de retorno do capital.
Qual o maior gargalo da inovação brasileira revelado pela primeira edição do IBID e como superá-lo?
RVV: O IBID é um retrato territorial da inovação no Brasil, um país de dimensões continentais. Nesse sentido, o maior gargalo evidenciado pelo estudo é justamente esta concentração espacial das atividades inovativas. Fortalecer e dotar os ecossistemas locais de CT&I da capilaridade necessária para permitir que a inovação tenha maior alcance regional e impulsione o desenvolvimento econômico territorialmente integrado é o grande desafio estratégico nacional que o IBID destaca.
O que esperar para o crescimento da inovação no País nos próximos anos, inclusive fora do Sudeste?
RVV: O Brasil tem vantagens competitivas próprias pela sua grandeza: a extensão territorial, o tamanho do mercado interno, a disponibilidade de recursos hídricos, a biodiversidade, entre outras. Isso torna o país candidato natural a ser protagonista global na bioeconomia, como potência verde. Mas para garantir a conversão desses recursos em renda, em bem-estar social, a inovação é elemento-chave. Inclusive para a redução das diversidades regionais. Da mesma forma que a revolução verde do agronegócio começou no cerrado brasileiro nos anos 70, o século XXI poderá assistir a uma nova revolução verde, esta na bioeconomia, acontecendo no Norte, onde está a Amazônia, e Nordeste do país, principal responsável pela geração de energia renovável no país.
Quais os destaques em inovação, acima do esperado, dos estados do Nordeste revelado pela primeira edição do IBID?
RVV: O Rio Grande do Norte (11º no ranking nacional) é destaque nacional em ‘Economia’ (puxado pela dimensão ‘Crédito’) e com bom desempenho regional em ‘Infraestrutura’, ‘Conhecimento e tecnologia’ e ‘Negócios’ – é o estado mais inovador do Nordeste. Pernambuco (13º), vice-líder regional, registra melhor desempenho, em termos relativos, em ‘Economia criativa’. O Ceará (14º) destaca-se regionalmente em ‘Conhecimento e tecnologia’, enquanto a Bahia (15º) registra melhor desempenho relativo em ‘Economia’.
Quais entre os sete pilares (instituições, capital humano, infraestrutura, economia, negócios, conhecimento & tecnologia e economia criativa) terá mais peso no desenvolvimento futuro da inovação no País? Por quê?
RVV: Do ponto de vista técnico, matemático, todos os pilares possuem pesos equivalentes no cálculo do IBID. Já sob a perspectiva teórica, o capital humano é o alicerce de tudo. Uma sociedade que investe em educação está construindo seu futuro em bases sustentáveis. Capital humano de qualidade significa capital social fortalecido, instituições de qualidade. Instituições permitem uma sociedade organizada, a geração de renda, o crescimento econômico que viabiliza recursos para o progresso tecnológico e científico necessário à superação dos grandes desafios sociais.